Quando eu chego, o senhor Luís já la está, na esplanada em sombra dum café da outra margem (ou desta, se este fosse o ponto de vista dele, que não é) em que se tece uma extensa rede social sem pedidos de amizade nem limites. O senhor Luís escreve um diário. Guarda folhas soltas numa pasta de cartão com abas e elásticos e escreve nelas a vida com esferográfica de tinta azul para não morrer —ouvi-lhe dizer a alguém um dia— estúpido. O senhor Luís usa óculos nos olhos e cigarro na mão que não segura a esferográfica. De vez em quando pede uma cerveja fresca. De quando em vez é uma cerveja fresca e mais um outro copo que pede. Uma vez ou outra ainda esmaga uma mosca com uma pá que o acompanha. Sempre cumprimenta quem o cumprimenta, que é quase toda a gente que passa na rua ao lado dele ou até no passeio do outro lado, ou quem vem com a vida ao café ou vai do café à vida. O senhor Luís fica na esplanada quando eu vou embora.
Isto é o que senhor Luís faz de tarde na esplanada do café. O que eu lá faço é coisa que terão de ler nas folhas escritas com esferográfica de tinta azul que o senhor Luís guarda numa pasta de cartão com abas e elásticos.
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