sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Mobiliário urbano

Que o senhor Eduardo está rijo como um pêro (e igualmente surdo) é facto que bem se corrobora em olhadas a distância ou míopes. Ao perto, nem tanto que de tactear, porém, a cena ganha som e contraste: tem os brônquios entupidos e gorgolejantes, as pernas cambaleam-lhe os andares precisos à vidinha mal reformada e por baixo do centro de gravidade e do umbigo, definha o homem como sino desbadalado (nem toca já a rebate incendiário, exauriu-se nele até o ínfimo cheiro de festança). Poder pode parecer que sorri, mas é apenas a falta de ar mastigável nos pulmões que o obriga a exibir o único dente sobrante do murro antigo que errou na fuça dum colega mais lesto, como se um espanto lhe fosse ao encontro. Fumar e beber café são os seus afazeres na hora em que a sobrinha o atrela, hirto e frio, ao rebuliço inócuo da esplanada, tão bonito ao longe como um poeta de mármore.

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