terça-feira, 18 de outubro de 2011
Intimidades públicas
O homem gesticula no passeio do outro lado da rua. Ouve-se a conversa toda que mantêm ao telemóvel. Na verdade, não sei para que ele está a gastar na chamada. Seguramente a pessoa com quem fala, onde quer que estiver, ouvi-lo ia sem dificuldade se apartasse da orelha o telefone e prestasse ouvidos ao mundo. Mas se calhar ele, o gajo que fala e gesticula, como se estivesse a dar uma palestra para um público surdo e invisível, está em horário de chamadas a borla (a borla, neste caso e em tantos outros, significa à custa do que se pagou ou se vai pagar) e quer que se saiba. Quer que se saiba até que ele está a resolver um assunto muito importante para outra pessoa. É inevitável olhar para ele. Compõe um quadro extravagante, meio-inclinado, com um braço levantado em ângulo quase recto, como se fosse abraçar alguém mas abraçando só a falta de pudor. Ao cabo de cinco minutos de gritaria, desliga, entra no carro que tinha ao lado e vai embora.
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