Também eu queimei há tempo as cartas,
num amanhecer de nevoeiro brando.
Erigi a pira a um canto da sala,
acarretei achas de lenha e pinhas,
folharada de papel digital, turva ou clara
(nem sei, era tempo pretérito, subitamente
imperfeito, perdido, desencontrado)
e enchi de ar os pulmões pequenos
e alentei desesperanças e ausências,
ateei versos intermináveis e beijos.
O lume, diz-que, purifica, mas eu
antes senti a língua chamuscar-se,
tisnarem-se os olhos e esturrar-se
o fundo mais fundo e seco da alma.
Arderam-me os dedos e agora
já só escrevo pedaços de gelo
pelas margens de pedra e limos
em que equilibro o futuro avaro.
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