quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Para os que esta noite irán de fantasmas...

Isto é celebrar o Día dos Defuntos. O resto son andrómenas:

Pronto se abriría noviembre -el noviembre nuestro- con la Fiesta de los Muertos, y los cementerios se transformarían en ferias y verbenas, con faroleros adornos de tumba a tumba, organillos a los cuatro vientos, guitarras sobre la tapa del dijunto, maracas, clarinetes y changangos junto a la capilla del tendido, con cholas desfloradas entre las coronas marchitas de un reciente sepelio. Muerto de azúcar candi, muertos de crocante rosado, muertos -calaveras- de caramelo, de mazapán, de pasta de ajonjolí, entre palas de cavadores y correas de sepultureros, entre ataúdes, urnas, bronces de buen alarde y retratos de abuelos, de militares, de niños endomingados, tras de cristales ovalados, empañados por rocíos y lluvias. Y llegarían también los que vendían esqueletitos bailadores, coronados, enmitrados, enchisterados, enquepisados, paseando su Danza Macabra de cenotafios a cruces, al grito de "Muertecito pa' su niño", que en tal día, era llamado al regocijo, el aguardiente y el sobado.

Alejo Carpentier. El recurso del método. 1974

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Ja, ja was ist das?

De repente, a media tarde, apetéceme convocar un referendo ou varios (a tortilla de pataca con ou sen cebola?, o pan con ou sen tomate?, vinagreta ou maionesa?). Que me deteñan.

Os cans non entenden que mudamos a hora (continuamos baixo os ditados de Berlín —o da Alemaña, non o das bólas) e queren cear e/ou pasear. Tamén eu quero pasear, pero non é a hora. Cear aínda non: a culpa é do chocolate.

O día menos pensado deixo de ouvir a radio. É a mesma voz (do amo) a todas as horas. Sen fox-terrier ao pé. E o disco, para máis, riscado, erre que erre: pensarán que cremos que é música dos noventa pero eu penso o que me parece (sécolas, trécolas).

E son, son máis curtos os días, pero en troco hai castañas. Total, haberá que durmir para poder espertar (o malo, insisto, é a radio).

Reflexión a posteriori: sempre tiro as fotografías desde o mesmo lugar da ponte. É o mesmo lugar que escolleu o suicida. Talvez non por acaso.

E agora toca prender a luz. Así, tan simple. 


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

domingo, 28 de outubro de 2012

Aqui é noite

É frio o silêncio em que te espero
na certeza de que não vais vir.
As janelas não deixam entrar o sol
e a lua olha para o rosto que a terra
oculta no mar enquanto inventa estrelas.
As portas não deixam sair o verbo
e o papel olha para a tristeza amarfanhada
dum domingo que não foi para sempre.

É muda esta espera em que arrefeço
na escuridão duma página em branco.

Ensaio vão contra a sede

Tenho cinco dedos em cada mão
e um copo de água
e sede
(uma sede que não me larga).
Com os cinco dedos
duma mão das duas que tenho
pego no copo de água
e bebo
(mas a sede não me larga).

Fusões






sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Vou caçar nuvens!











É nesta guerra que me deram o privilégio de lutar...

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Balanço do passeio

A cadela calça peúgas de lodo para entrar no rio. E corre (na disposição das orelhas dela lê-se qualquer coisa parecida com felicidade).

A felicidade é um objecto sensível às perspectivas. As minhas orelhas permanecem visivelmente inalteráveis.

O lodo é o invento mais bem concebido da criação —diz a sanguessuga e, a seguir, acrescenta—: O fedor supera-se só com a falta de olfacto. Fechar os olhos não adianta.

Está vento do sul. Chover ainda não chove.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O grito surdo

Era um dezanove qualquer e tinha
tanto frio nos ossos quanto na voz.
Nem sei se chovia se era o próprio
olhar toldado sobre os vidros sujos,
no espelho embaciado do círculo
infinito em que as horas navegam.

Era um dezanove de outono lento
e o sono aguçava as garras na parede
de pedra e musgo, no sorriso torto
dum vaso de versos caído no chão
da cozinha em silêncio. Um rumor
de feras alçou-se na névoa: é hora.

Era o dezanove dum ano enrouquecido
contra o piano seco e torpe
que mendigava mãos crepusculares.
A várzea desenhava-se trêmula
na janela: aves, árvores, águas,
um alpendre, um muro, um trilho.

Por dentro era apenas o grito
surdo dos ossos na tela da tarde.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Diario (secreto) de a bordo

Houbo onte instantes en que non choveu (exercicio principal: abrir e fechar o paraugas). O canal do Ariño viña (ou ía) cheo, case a rebordar: dábame o nivel polo corazón e os amieiros, mergullados ata a cintura, punteaban xilofonías pinga a pinga na tona do mansío. A auga engulira o carreiro nas marxes: só un compás desorientado sería quen de trazar a lapis azul o rumbo incerto sobre papel de prata ou lama. E así. Fun e vin. Deitouse o sol espreguizando os brazos polo monte da Pena, que se pintou nun idioma só del: amarelo, violeta e sombra de ollos.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Swinging

E pois, cá estou, a escutar jazz. Eu, eu que nem gostava de jazz, lembras? (ninguém responde), e dizias que me irias ensinar a gostar de jazz (e já não) e depois tive de aprender a sós, em meias doses.

E pois, a chave apareceu. Esculpada fica a pequena. O cérebro meu é que tem culpa e nem conserto há para ele neste início de século em que tudo, nomeadamente os direitos, andam ao desbarato. E há quem diga que as leis, mesmo que forem injustas, estão para serem cumpridas. E não estarão -digo eu, que nem cérebro tenho que me aguente as ideias nem os ideais- para serem mudadas? A chave estava na algibeira dum casaco a que ninguém sabe como foi parar.

Mas não me perguntem quem toca: sei só que tem pressa por chegar ao fim, ou parece.

Ai, é verdade: é chove e venta, mas é só lá fora, ainda.

domingo, 14 de outubro de 2012

E do lume fiz trevas...

Também eu queimei há tempo as cartas,
num amanhecer de nevoeiro brando.
Erigi a pira a um canto da sala,
acarretei achas de lenha e pinhas,
folharada de papel digital, turva ou clara
(nem sei, era tempo pretérito, subitamente
imperfeito, perdido, desencontrado)
e enchi de ar os pulmões pequenos
e alentei desesperanças e ausências,
ateei versos intermináveis e beijos.
O lume, diz-que, purifica, mas eu
antes senti a língua chamuscar-se,
tisnarem-se os olhos e esturrar-se
o fundo mais fundo e seco da alma.

Arderam-me os dedos e agora
já só escrevo pedaços de gelo
pelas margens de pedra e limos
em que equilibro o futuro avaro.

sábado, 13 de outubro de 2012

Martirio

Só eu para prender a Radio Nacional de nin sei onde antes da seis da mañá e ouvir unha persoa adulta sentenciar serena: "antes, antes sin pellejo que sin devoción a María". Arrepíome toda, desde a submucosa intestinal até a epiderme e apago o mundo. Ten que ser este mesmo o inicio dunha noite longa de pedra e ferro e devastación.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A troca











E a chave da mota nunca mais aparece. Desconfio da pequena, claro. Ou de mim, da minha cabeça, que se perde por vezes num vazio de ideias, num nada de sentimentos. A chave da mota que não aparece. É a vida estes desencontros com objectos úteis ou também aqueles tropeços com seres desúteis: os ratos. Afinal, ela, a pequena, demonstrou caras habilidades. Ontem ofereceu-me dois. Em troca da chave, parecia dizer: dois por um. Abanava a cauda. E eu sorri ao seu contento: esqueci a subtil subtracção da chave da mota que nunca mais gente viu.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

De cada palabra



Dona'm la mà que anirem per la riba
ben a la vora del mar
                                    bategant

Joan Salvat-Papasseit

No silencio atento

Agora perdín o presente
(ou as palabras que o describen)
e conto a vida nun teu reflexo de sombras.
Non escribo a chuvia da noite
nin o silencio atento da madrugada á voz.
Non acordo as horas do pasado; antes leo
o futuro perfecto a través da tua voz serena
nesa lingua de terra e frío que nos abriga.

Agora perdín o presente
(e o galo canta unha mañá antiga).