sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Envoltório

Para a Ana Saraiva, a 9 de dezembro de 2011

Hoje não tenho prenda para te oferecer.
Fiquei à espera na soleira de casa
olhando ao céu: nenhum mar se via,
nem pianos de vela a sulcarem os instantes;
apenas me sobram garças que se abrigam no sul
das minhas mãos solitárias,
amieiros nus que morrem pelas margens,
um grasnido frio de corvo, véus rasgados de névoa
e os caminhos a que nunca achei fim.

Não tenho prenda alguma que te dê.
Foi por isso que escolhi para ti
o meu mais viçoso rebento de abandono
embrulhado em azul de águas
sobre um fundo de areias raras.

4 comentários:

Anónimo disse...

Um poema de antologia, com momentos verdadeiramente empolgantes, tal é o impulso galvanizante das metáforas.

Sun Iou Miou disse...

Não há metáfora nenhuma, Anónimo. É tudo real e palpável.

Anónimo disse...

Então, o que é que eu posso apalpar?!...

Sun Iou Miou disse...

O ar, Anónimo, o ar.