Queria eu escrever-te sem escritas,
deitar pelas mãos nuvens e orvalhos
como quem semeia nadas, assim de leves
e tão alados, música sem algemas
que ao papel a ferrem, sons esparsos
como vozes sussurradas nos fundos ameais
onde pé não pousa ou ouvido alcança.
Queria eu escrever-te brancas frases
que nem fossem munidas de palavras,
redigi-las em aragens ou carícias,
átomos de insubstância e tinta,
acordes desacordes com os tempos,
aroma impossível de japoneiro e o verde-
-criança duma seara em primavera.
Algum pedaço de alfabeto avulso
sacudir logo e embrulhar na seda
dum envelope azul-de-maré-cheia,
selar com borboleta num canto o destino.
Finalmente, levar aos Correios e dizer:
—Queira mandar, se faz favor,
para onde o mundo acaba.
3 comentários:
Dicen que el mundo acaba en Celanova, esta primavera, para comprobarlo podemos subir al Penagache (no sé cómo se escribe) y comprobarlo. Nos vemos en Reis
Me siento incapaz de traducir, pero de alguna manera sí soy capaz de aprehender la belleza de este texto. Llevo días con él.
Tocante, senhora!
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