domingo, 25 de dezembro de 2011

Carta

Queria eu escrever-te sem escritas,
deitar pelas mãos nuvens e orvalhos
como quem semeia nadas, assim de leves
e tão alados, música sem algemas
que ao papel a ferrem, sons esparsos
como vozes sussurradas nos fundos ameais
onde pé não pousa ou ouvido alcança.

Queria eu escrever-te brancas frases
que nem fossem munidas de palavras,
redigi-las em aragens ou carícias,
átomos de insubstância e tinta,
acordes desacordes com os tempos,
aroma impossível de japoneiro e o verde-
-criança duma seara em primavera.

Algum pedaço de alfabeto avulso
sacudir logo e embrulhar na seda
dum envelope azul-de-maré-cheia,
selar com borboleta num canto o destino.
Finalmente, levar aos Correios e dizer:

—Queira mandar, se faz favor,
para onde o mundo acaba.

3 comentários:

condado disse...

Dicen que el mundo acaba en Celanova, esta primavera, para comprobarlo podemos subir al Penagache (no sé cómo se escribe) y comprobarlo. Nos vemos en Reis

ella disse...

Me siento incapaz de traducir, pero de alguna manera sí soy capaz de aprehender la belleza de este texto. Llevo días con él.

Jonas disse...

Tocante, senhora!