Doravante o senhor Eduardo e eu partilhamos mesa na esplanada. Os muitos anos privaram-o de ouvido e tem o aparelho —explica, abanando a cabeça— a arranjar. Sem ele nada ouve. Mas vê, observa, entre cigarrilha e cigarrilha, quem vem (boa tarde), quem vai (tudo bem?). Um dia viu-me chegar, seguiu os meus passos encaminhando-se à uma das mesas para contemplar a friagem nelas instalada e fez-me sinal com a mão de me sentar, se faz favor, na dele, abrigada pela parede e as varandas do primeiro andar. Olhei-o nos olhos e misturei um obrigada e um sorriso na dose exacta. Sentei. Ele retirou a chávena do café vazia com o seu pires e dobrou o jornal que já lera para deixar espaço ao meu triste descafé cheio e à Pedras, ao romance em curso e às mãos que seguram as páginas enquanto por ele navego nenhures.
Não tarda, ele aproveitará a boleia do carro dalgum conhecido que sobe a encosta para poupar aos seus brônquios avariados o esforço do regresso à escuridão da casa, onde a mulher lhe morre devagarinho.
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