Através duma outra voz descubro vinte anos depois (vinte, vinte mesmo, exactos, tudo e nada, sempre tarde) que não sobrevivi, antes contravivi. Que vivo ainda (ao que parece, pois continuo a pagar civicamente impostos) não graças a mas apesar de. Do veneno. Ou dos venenos: o interno, genético, inevitável; o externo, sintético, que se pôde evitar. Num simples verbo auxiliar em particípio passado —que expressa capacidade perfeita e paradoxalmente descumprida por imposições semânticas do verbo principal— assenta o desespero inteiro, maduro, quase podre.
E agora? Parto a loiça toda?
5 comentários:
Tal parece que anda a patíns por esa liña de horizonte pola que poucos poden dicir que gardan o equilibrio despois de vinte anos
A escorregar mesmo, Condado, pero sen patíns, sen freos e sen rede (nin deus: "hai alguén máis aí?").
Não....!
Não partas toda, deixa alguma para tomares os chás, outra para guardares os venenos e já agora poupa também o penico - que certamente é de porcelana fina...
Contraviver é certamente heróico, mas tens ainda a hipótese de muitos mais sobreviveres.
Já te apercebeste que é nesse contraviver que estamos quase todos, nos tempos que correm?
Uns por uns motivos; outros, por outros...
Vai patinar, anda!
E deixa lá a loiça em paz.
Contraviver não tem nada de heróico, Jonas. Antes baseia-se no MEDO, essa arma omnipotente (tão bem dominada, como insinuas, por este nosso queridíssimo neoliberalismo) que actua sobre a COVARDIA. Partir a loiça, porém, talvez seja a única decisão heróica que tenha tomado na vida. Mas como todas as que tomei será errada. Errare humanum est (dizíamos que também falávamos latim, certo?) e eu, ao que parece, transpiro humanidade.
Sun Iou, estás filosófica hoje. Me recuerdo destrozando platos de loza en un camino cercano a la playa de Áncora, si que ayuda a contravivir, contra lo que uno quiere.
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