sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Desarrumações mentais
O que ele sonhou essa noite, se eu contasse como ele me contou, ninguém mais vinha cá espreitar. Pesadelo nojento! Ainda tenho arrepios quando visto no meu corpo pele e vísceras suas para imaginar o que pôde ser tal experiência. Pois, digam-me, alguém sonhou alguma vez que enquanto uma família estranha se lhe instalava, sem explicações como os sonhos exigem, em casa ―na casa enorme em que vive sozinho e à vontade com as suas manias e desarrumações medidas―, uma família em que a mulher está sempre fora a limpar e trabalhar, enquanto o homem e o filho estão sempre dentro a sujar e nada fazer, apoltronados (apotroncados, como diz uma minha vizinha que mora em vocabulário próprio) ante o televisor a ver partidos de bola, trasfegar cervejas e engolir pizzas, o dono da casa tinha de andar de joelhos a esfregar o rasto de porcaria que pai e filho iam deixando pela casa acima e abaixo, que eram lá umas escadas que só no dia do juízo final terminavam, zangando-se cada vez mais com aqueles intrujões porcos que lhe calharam, quando de repente, nota uma bolha num braço que rebenta e aparece um buraco escuro, preto, de meio centímetro e ao espremê-lo aquilo jorrava cagalhões castanhos secos de pombo?
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