Que tivessem passado dias sem eu ver o senhor Eduardo não significa que ele deixasse de existir. É só que tenho vindo mais tarde para a esplanada, quando ele já foi embora, a resfolegar como uma concertina velha, encosta acima. Hoje, porém, encontrei numa das cadeiras de plástico amarelo evidências claras da sua presença: uma cigarilha que fugiu quase intacta aos seus pulmões esfalfados (nos tempos de crise que correm, ai, fumasse eu...). Mas não foi isto o primeiro a acontecer quando lá cheguei. O senhor Luís estava de espingarda pronta e ao meu boa tarde, disparou, a matar:
—Vai estar mal agora com o seu JL.
—E então? —perguntei eu numa aflição ho-rro-ro-sa, a imaginar que não só o país falia sempre mais um dia após o outro, mas também a literatura ia para os fundos níveis do lixo.
—O Nuno fechou...
E pois, o Nuno fechou o quiosque, o senhor Luís ficou sem onde comprar os maços de tabaco e eu fiquei sem onde comprar o JL. E pior, digo-vos, vou ter saudades do Nuno a dizer:
—Ó menina, o JL já cá está.
Isto se não é velhice está parecendo...
2 comentários:
Vas ter que ir a biblioteca...
É verdade: Cerveira, afinal, é outro mundo. Tem biblioteca, tem Porta XIII, tem esplanada, tem ponte. E eu vou tendo pernas.
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