quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A menina acabou (por falência)

Que tivessem passado dias sem eu ver o senhor Eduardo não significa que ele deixasse de existir. É só que tenho vindo mais tarde para a esplanada, quando ele já foi embora, a resfolegar como uma concertina velha, encosta acima. Hoje, porém, encontrei numa das cadeiras de plástico amarelo evidências claras da sua presença: uma cigarilha que fugiu quase intacta aos seus pulmões esfalfados (nos tempos de crise que correm, ai, fumasse eu...). Mas não foi isto o primeiro a acontecer quando lá cheguei. O senhor Luís estava de espingarda pronta e ao meu boa tarde, disparou, a matar:

—Vai estar mal agora com o seu JL.
—E então? —perguntei eu numa aflição ho-rro-ro-sa, a imaginar que não só o país falia sempre mais um dia após o outro, mas também a literatura ia para os fundos níveis do lixo.
—O Nuno fechou...

E pois, o Nuno fechou o quiosque, o senhor Luís ficou sem onde comprar os maços de tabaco e eu fiquei sem onde comprar o JL. E pior, digo-vos, vou ter saudades do Nuno a dizer:
—Ó menina, o JL já cá está.

Isto se não é velhice está parecendo...

2 comentários:

condado disse...

Vas ter que ir a biblioteca...

Sun Iou Miou disse...

É verdade: Cerveira, afinal, é outro mundo. Tem biblioteca, tem Porta XIII, tem esplanada, tem ponte. E eu vou tendo pernas.