Adormeci no torpor da meia tarde. De ali a uma hora, acordei, banhada no mesmo torpor... e transpiração. Foi apenas esta que me arrancou da cama (o torpor ainda preso, escadas abaixo, das orelhas e as pestanas).
Estendi a toalha na mesa do quintal. Dispus os alimentos e a aragem. Abri o livro, mastiguei as páginas concentrada nas vírgulas. Ruminei. Depois, nas margens da vida, fiz apontamentos vários. E bebi um gole do silêncio que me acenava desde uma nuvem pouco séria.
Escrever para quê? Para memória do absurdo no dia em que não mais tiver memória —não que o mundo se importe (importe-me eu e basta!, proclamo num grito estonteante e os pardais, desde o bordo já não japonês, olham-me aflitos, a abanarem a cabeça pela ausência de migalhas)— empreendi uma outra viagem, pé-ante-pé e alfanje entre os dentes, pelas palavras. A pressa em atingir nenhum destino, por isso, é escassa.
Ler, matutar, escrever. Nem sempre por esta ordem. Às vezes no caos quase absoluto. Hesitante.
17 comentários:
essa do caos quase absoluto é poesia; ninguém no caos escreveria assim...
gostei deste cosmos
beijos
r.
E depois, Rosa, uma menina disciplinada como eu... qual caos?! Nunca acreditem nada do que digo. Minto com os dentes todos (sem alfanjes). ;)
menti-rosa.
eh
vou...musealizar
Não fossem as menti-rosas, quem aturava a realidade, hein? Musealiza bem.
No meio é que está a virtude!
Pois, Ana, trabalho de funâmbulo... ;)
Eu hoje escrevo a gente que não conheço mas que som quem de decidir sobre do meu trabalho, meu futuro, a vida... Para que?... Escreve para que?... É sorte ter vida com margens para apontamentos, não?
Carai, Condado! Cartéaste cos deuses?
Estrilhando - conforme o meu costume:
Solidão não é doença, mas milhares de patologias!
Sendo que, uma delas, é a teimosia de tentar arranjar uma ordem para 'coisas' que são, por sua própria natureza, absolutamente desordenadas.
E sendo a vida humana um caos, qualquer tentativa de a harmonizar pode provocar solidão.
Enfim...
Solipsista que também sou, confesso-me cansado de tanta solidão...
Reinventar tudo é preciso.
Chorar não é preciso.
Reinventar tudo, ó Jonas! Linda vida de reformado a tua que dá para isso.
Por enquanto, eu fico-me pelo choro, digo pelo chorinho....
http://youtu.be/Si5y0QGSjTY
Me da como rubor escribir aquí en castellano. Pero, decir que ya echaba de menos esta tertulia. Reinventarse o morir.
Abrazos traducidos
Que no le dé a usted nada, doña Ella, que aquí lo que no desentona es justamente lo que no se entiende.
Bueno, no nos pongamos trágicas. Reinventarse o morir tampoco... que para eso siempre hay tiempo.
(¡Anda! ¿Y a mí que no me da pudor escribir en castellano?)
A mí me da pudor escribir. Punto.
;)
Pois, pois, xôtor Jonas, "pudor escribir" dava eu a Vossa Excelência. O seu castelhano, contudo, é perfeito. Parabéns. ;)
Deixa-te de 'milongas' e diz lá como ficaste sabedora do 'caderninho' ?
Arre!
...E é se queres!
Anda.
¿me gusta escribir pero me da como pereza por que? ;-)
Julgo que vives muito bem agora, Oscar. A felicidade não se dá com a poesia. :P
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