terça-feira, 28 de junho de 2011

Na ordem do dia

Adormeci no torpor da meia tarde. De ali a uma hora, acordei, banhada no mesmo torpor... e transpiração. Foi apenas esta que me arrancou da cama (o torpor ainda preso, escadas abaixo, das orelhas e as pestanas).

Estendi a toalha na mesa do quintal. Dispus os alimentos e a aragem. Abri o livro, mastiguei as páginas concentrada nas vírgulas. Ruminei. Depois, nas margens da vida, fiz apontamentos vários. E bebi um gole do silêncio que me acenava desde uma nuvem pouco séria.

Escrever para quê? Para memória do absurdo no dia em que não mais tiver memória —não que o mundo se importe (importe-me eu e basta!, proclamo num grito estonteante e os pardais, desde o bordo já não japonês, olham-me aflitos, a abanarem a cabeça pela ausência de migalhas)— empreendi uma outra viagem, pé-ante-pé e alfanje entre os dentes, pelas palavras. A pressa em atingir nenhum destino, por isso, é escassa.

Ler, matutar, escrever. Nem sempre por esta ordem. Às vezes no caos quase absoluto. Hesitante.

17 comentários:

r disse...

essa do caos quase absoluto é poesia; ninguém no caos escreveria assim...
gostei deste cosmos
beijos
r.

Sun Iou Miou disse...

E depois, Rosa, uma menina disciplinada como eu... qual caos?! Nunca acreditem nada do que digo. Minto com os dentes todos (sem alfanjes). ;)

r disse...

menti-rosa.
eh

vou...musealizar

Sun Iou Miou disse...

Não fossem as menti-rosas, quem aturava a realidade, hein? Musealiza bem.

Ana Saraiva disse...

No meio é que está a virtude!

Sun Iou Miou disse...

Pois, Ana, trabalho de funâmbulo... ;)

condado disse...

Eu hoje escrevo a gente que não conheço mas que som quem de decidir sobre do meu trabalho, meu futuro, a vida... Para que?... Escreve para que?... É sorte ter vida com margens para apontamentos, não?

Sun Iou Miou disse...

Carai, Condado! Cartéaste cos deuses?

Jonas disse...

Estrilhando - conforme o meu costume:

Solidão não é doença, mas milhares de patologias!
Sendo que, uma delas, é a teimosia de tentar arranjar uma ordem para 'coisas' que são, por sua própria natureza, absolutamente desordenadas.
E sendo a vida humana um caos, qualquer tentativa de a harmonizar pode provocar solidão.
Enfim...
Solipsista que também sou, confesso-me cansado de tanta solidão...
Reinventar tudo é preciso.
Chorar não é preciso.

Sun Iou Miou disse...

Reinventar tudo, ó Jonas! Linda vida de reformado a tua que dá para isso.

Por enquanto, eu fico-me pelo choro, digo pelo chorinho....
http://youtu.be/Si5y0QGSjTY

ella disse...

Me da como rubor escribir aquí en castellano. Pero, decir que ya echaba de menos esta tertulia. Reinventarse o morir.
Abrazos traducidos

Sun Iou Miou disse...

Que no le dé a usted nada, doña Ella, que aquí lo que no desentona es justamente lo que no se entiende.

Bueno, no nos pongamos trágicas. Reinventarse o morir tampoco... que para eso siempre hay tiempo.

(¡Anda! ¿Y a mí que no me da pudor escribir en castellano?)

Jonas disse...

A mí me da pudor escribir. Punto.
;)

Sun Iou Miou disse...

Pois, pois, xôtor Jonas, "pudor escribir" dava eu a Vossa Excelência. O seu castelhano, contudo, é perfeito. Parabéns. ;)

Jonas disse...

Deixa-te de 'milongas' e diz lá como ficaste sabedora do 'caderninho' ?
Arre!
...E é se queres!
Anda.

Oscar disse...

¿me gusta escribir pero me da como pereza por que? ;-)

Sun Iou Miou disse...

Julgo que vives muito bem agora, Oscar. A felicidade não se dá com a poesia. :P