Pode-se pensar que estou concentrada a ler o César Vallejo na sua vertente surrealista. E estou. Só que por vezes há na esplanada frases dispersas pronunciadas num tom que se eleva sobre o rumor confuso das vozes. Ignoro qual foi frase anterior, também não me interessei por prestar ouvidos à seguinte. Fiquei-me pelo instante. O gajo levantou-se da cadeira, pegou no telemóvel que estava sobre a mesa e mostrou-o aos seus dois interlocutores como o fiscal mostra ao tribunal e ao público presente na sala a prova definitiva do crime (quer-se dizer, girando o torso ao de leve para a direita sobre as ancas, os olhos escancarados, uma celha mais arqueada do que a outra):
—Isto é um telemóvel, te LE móvel, ou seja: LE vo-te comigo —declarava enquanto fazia de conta que ia enfiar o dito no bolso das calças, para finalmente pousá-lo de novo na mesa e, de novo também, sentar ele.
Quem quer mais poesia, digo, provas?
2 comentários:
Citas en este texto a un de mis amores: Cesar. Le amo sobre todo cuando dice en Trilce:
El traje que vestí mañana
no lo ha lavado mi lavandera...
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capulí de obrería, dichosa
de probar que sí sabe, que sí puede
¡CÓMO NO VA A PODER!
azular y planchar todos los caos.
César Vallejo está ben neses tempos. Nos primeiros é (para min) vomitivo.
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