quinta-feira, 30 de junho de 2011
Eliminar ratazanas
Abri um comentário anónimo à espera de moderação e vista a sua imoderação, que atirava bocas contra a amabilidade dum comentarista inocente com o objecto abjecto e reviravoltado de me insultar a mim, aprestei-o dedo para o enviar à lixeira, quando ao fugir-me o olhar à direita, li nos anúncios do servidor: "eliminar ratazanas". Surpreendi-me ou se calhar assustei-me. Eu sabia que nos vigiam o conteúdo das mensagens, com a finalidade, diz-que, de seduzir-nos com tudo quanto nos é preciso à vida e à morte: de bombas de mão a beijos ardentes. Dessa eficiência, porém, não estava à espera. Contratei de imediato os serviços e mandei uma dose de estricnina ao bicho, não bastante para matá-lo no acto, mas para o pôr a contorcer-se em epiléptica agonia uns tempitos horrorosos. A seguir lavei as mãos como indicava no prospecto.
terça-feira, 28 de junho de 2011
Na ordem do dia
Adormeci no torpor da meia tarde. De ali a uma hora, acordei, banhada no mesmo torpor... e transpiração. Foi apenas esta que me arrancou da cama (o torpor ainda preso, escadas abaixo, das orelhas e as pestanas).
Estendi a toalha na mesa do quintal. Dispus os alimentos e a aragem. Abri o livro, mastiguei as páginas concentrada nas vírgulas. Ruminei. Depois, nas margens da vida, fiz apontamentos vários. E bebi um gole do silêncio que me acenava desde uma nuvem pouco séria.
Escrever para quê? Para memória do absurdo no dia em que não mais tiver memória —não que o mundo se importe (importe-me eu e basta!, proclamo num grito estonteante e os pardais, desde o bordo já não japonês, olham-me aflitos, a abanarem a cabeça pela ausência de migalhas)— empreendi uma outra viagem, pé-ante-pé e alfanje entre os dentes, pelas palavras. A pressa em atingir nenhum destino, por isso, é escassa.
Ler, matutar, escrever. Nem sempre por esta ordem. Às vezes no caos quase absoluto. Hesitante.
Estendi a toalha na mesa do quintal. Dispus os alimentos e a aragem. Abri o livro, mastiguei as páginas concentrada nas vírgulas. Ruminei. Depois, nas margens da vida, fiz apontamentos vários. E bebi um gole do silêncio que me acenava desde uma nuvem pouco séria.
Escrever para quê? Para memória do absurdo no dia em que não mais tiver memória —não que o mundo se importe (importe-me eu e basta!, proclamo num grito estonteante e os pardais, desde o bordo já não japonês, olham-me aflitos, a abanarem a cabeça pela ausência de migalhas)— empreendi uma outra viagem, pé-ante-pé e alfanje entre os dentes, pelas palavras. A pressa em atingir nenhum destino, por isso, é escassa.
Ler, matutar, escrever. Nem sempre por esta ordem. Às vezes no caos quase absoluto. Hesitante.
Subscrever:
Mensagens (Atom)