quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Que a vida non me sorprenda xamais
desprevenido calado e neutral
Bizitzak ez nazala harrapa inoiz
neutral, ezustean, isilik 






Lois Pereiro. Akaberako poesia amodioaz eta gaitaz (1992-1995) 
Tradución de Joxemari Sestorain

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Lento cataclismo

Sobrevivo entre os cascallos
de mañá, esboroados
os brazos que o sostiñan.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Luz

Agora abro as cortinas da sala
como se em mim fosse entrar 
a tua voz tão clara com o dia.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

No firmamento de Mandela




Estación orbital
Lúa

5 de decembro de 2013

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Antes do devalo






Ponte da Amizade
(Na Terceira Margem)

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Violencia verbal

Feríronme nos labios
coas súas farpas,
voraces, as palabras.

sábado, 23 de novembro de 2013

En tres tempos nada

Era un futuro en ruínas,
o alento deshabitado e húmido,
un silencio escuro:
o tempo morto.

(O presente
fíltrase entre as fendas
do pasado.)

É o presente en sombras,
luscofusco volátil,
néboa densa e lenta:
frío tremor de avelaíña.

(O pasado
nutre o espectro roto
do futuro.)

Será un pasado en chagas,
carne murcha,
sangue seco:
vougo alcouve.

(O futuro
agoniza no presente,
ferido de asa.)

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Domingo

Desejei tanto ũa vossa, que cuido que por a muito desejar a não vi; porque este é o mais certo costume da Fortuna: conseguir que mais se deseje o que mais presto se há-de negar.

Luís Vaz de Camões. Carta da Índia

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Pausa para publicidade

—A historia —dixo Stephen— é un pesadelo do que
intento acordar.
Ulises. James Joyce





Tradución ao galego de
Antón Vialle
Eva Almazán
Xavier Queipo
María Alonso Seisdedos


(Só falarei disto en presenza do meu psiquiatra)

sábado, 5 de outubro de 2013

domingo, 29 de setembro de 2013

Epi-paf-fiu

As moscas do outono
no café da Lenta
não incomodam tanto
o poema
que não possam ser escritas
antes de mortas.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A maldición

Contén o alento
e mergulla de novo
evitando sobre todo
que o axente corrosivo
che queime os pulmóns.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Presente de outono







nóssomos



Felicidade em doses pequenas para não atrapalhar a chuva

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

sábado, 7 de setembro de 2013

A morada dos soños





Convento de San Paio
Vila Nova de Cerveira

Interior. Día

Abro a gabeta das palabras
e só encontro
un amencer en sombras.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A primeira pedra

É sobre este silêncio
que construirei
a tua tristeza.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Cabodano inverso

Mórrenme as mans
e nelas
gangrénase a alma.

sábado, 15 de junho de 2013

Contos com história

De que fôsse bem tratado, discordar não havia, pois lhe faltavam carrapichos ou carrapatos, na crina -reta, curta e levantada, como uma escôva de dentes. Agora, para sempre aposentado, sim, que ele não estava, não. Tanto, que uma trinca de pisaduras lhe enfeitava o lombo, e que o João Manico teve ordem expressa de montá-lo, naquela manhã. Mas, disto último, o burrinho não recebera ainda aviso nenhum.

João Guimarães Rosa. Sagarana. "O burrinho pedrês". Livraria José Olympio Editôra. Rio de Janeiro. 1956 (4ª ed.)



















Este livro já conheceu três continentes: nasceu no Brasil, viveu em Angola, descansou em Portugal e cinquenta anos depois revive, nas minhas mãos, na Terceira Margem do Minho.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Itinerário













E fugir só com o peso da liberdade às costas...

segunda-feira, 3 de junho de 2013

sábado, 25 de maio de 2013

Ligações (muito) perigosas

Desde há alguns anos mantenho com Portugal ligações várias: a cultura, algumas pessoas, o azeite de Trás-os-Montes, o vinho alentejano (tinto, sff!), as cerejas de Resende... Mas desde ontem, pela módica quantidade de 10'20€ (ainda sobraram 0'10€ na carteira, felizmente não me vi obrigada a penhorar a bicicleta) tenho também uma ligação com o Estado português: número de contribuinte, pessoal e intransmissível (pois é: estou tramada).

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Panorama

Na marxe en penumbra á espreita,
coa paciencia infinda do futuro,
as farpas do abismo ou as mans da ponte.

domingo, 19 de maio de 2013

Universo

Papuxa das amoras:
 arce xaponés - eu:
Ferreiriño subeliño.

sábado, 18 de maio de 2013

Intervalo

Entre o sol e a lúa
un fío de luz
que se apaga ou arde.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Fuga

Algúns morren pola noite,
nacen outros.
O día transcorre indiferente.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Boa nova




Oración

Escribir tres liñas cada noite
aos pés da cama
e pór na fin o punto (e seguido).

domingo, 5 de maio de 2013

Maio

O recendo do azar na tarde
pintou-me nos ollos un asombro
de leves bolboretas brancas.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Locus amoenus











Porque hai días en que o que máis apetece é mandar o choio a cagar de campo.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Na hora do chá

Este blogue não está aberto a leitores convidados

Parece que foi convidado para ler este blogue. Se pensa tratar-se de um erro, deverá contactar a autora do blogue e solicitar o desconvite.

sábado, 13 de abril de 2013

Negrume

Já vejo o fim do túnel. Não se vê é luz.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

O retorno, o eterno

Passa-se a ponte no retorno
e nada é como foi na ida
flui o rio tão heráclito
—sabem-o as águas distraídas—
e são outras as nuvens e as cores
(os verdes, os castanhos, os amarelos),
até a cinza da pedra é outra
e maior a sua idade,
menor o seu tempo.
Tique-taque tique-taque
diz o pedalar e a roda vira-vira
nunca igual a si própria
jamais idêntica a diferença nenhuma.

Não me detenho, nada me detém
(a estática é uma postura impossível),
paro na varanda e a marcha continua
comigo dentro, sem mim de fora:
gritei e no lugar do grito já é silêncio.
Fui e no lugar onde fui sou sombra:

nunca regresso.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

A máscara do dia

Na noite é mais lúcida a mente
por quanto na escuridão vê-se
o terror olhos nos olhos.

Imergência

Nada aprendi do silêncio
senão a morar nele: mortalha
que dá vida, cova que ampara.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Armas brancas

Tenho um corpo em que a dor madruga
(nem por isso o alento acorda).

domingo, 7 de abril de 2013

Ao inimigo que foge...

E um dia destes tender-me-ei uma ponte, nem que seja de lata. Porque nada há a pior do que ser um o próprio inimigo.

Despedida anunciada

Alterar a estrutura duma pergunta perfeitamente traduzida porque a resposta possa induzir a entender que é gramaticalmente incorrecta e provocar, portanto, que o implacável caça-gralhas bem acomodado na sua poltrona crucifique por isso mil páginas de trabalhinho, chama-se, acho, auto-censura, ou até os mesmíssimos de que careço (e a falta que eles me faziam!).

Mais dois meses e mando tudo às favas, com ou sem um par de.

Mensagem truncada

As palavras escritas, quando não são colocadas por quem sabe, podem induzir a equívocos que só na poesia são arte, e nem isto é poesia nem eu sou poeta.

sábado, 23 de março de 2013

Tão de manhã cedo

É sábado e eu viajo pelo Galway das Irlandas: música e rumor de mar, esse clássico, e talvez o sal. E de repente apeteceu-me um malte (sei lá, Cork nos ouvidos fura).  Tantos lugares comuns desabitam-me e um silêncio: um esquecimento frio na cova da memória.

Nada faz sentido à luz da noite. Nem a chuva.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Desfase temporal

Un día na vida de Leopold Bloom son sete meses da miña vida (e seguen sen darme as contas).

P.S.: A 4 de novembro de 2013, foi un ano: as contas non deron.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Canto de primavera

Floriam galinhas no meu quintal e eram
como primaveras. Dançai, dançai, minhocas!,
gritei, nos bicos das aves e contorcei-vos
que melhores dias não virão e a vida
não vos há-de dar asas nem voos maiores.
É agora ou nunca a vertigem, o sonho
que agoniza voejante, inútil, malogrado,
a dois palmos sobre a terra e mas
será ovo, na minha boca famenta
fecundo, branco, amarelo. Dançai,
que amanhã serão bico as minhas mãos
e minhoca bailarina o pescoço delas.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Croc sprch

Vin un abismo aos meus pés e saltei.
(E eu sen asas.)

domingo, 10 de março de 2013

Os silencios

De todo o que che digo
para ti só é o que calo.

sábado, 9 de março de 2013

Saldo

Agora que fago contas á vida
sáenme todos os números quebrados.

terça-feira, 5 de março de 2013

domingo, 3 de março de 2013

Somos imbéciles

E foi así como espertei hoxe, desimbecilizándome nun lento olhar para o mundo: escoitaba a radio e sorrín contendo as bágoas. Impóñense mudanzas de actitude. Ou entón, mellor ferrar un tiro no estómago. É noite aínda e non vai ser día tan cedo pero o sol xa está aí, vente ou chova.

Respirar fundo, abrir as mans e os ollos, plantar soños.

Devagar cara ao infinito. Tempo ao tempo.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Parábola

Un casco de cervexa lanzado a contra forte-vento-norte desde un coche describe unha traxectoria curva contraria á pretendida polo descerebrado que a lanza, isto é, non cae ao río para contaminacións futuras talvez do mar que é o morrer, antes, digo despois, voa por riba do vehículo que xa desapareceu da vista e descende vertixinoso sobre a beirarrúa sur da ponte pola que eu bicicleticamente circulo distraída dos perigos pois que a salvo cándida me cría de tránsitas ameazas para ir parar á bota en que rebota de volta á estrada, xusto a tempo de o escacharen, crach-cras-cris, os pneumáticos, pam-pfff-crgh, rachados do vehículo que lle pasou porriba.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

E agora a tenrura?

Hai un par de anos e medio, non teño dúbida, despois da consulta, escribiría un texto coma mínimo mordaz. Hoxe non, nin onte, e seguramente, mañá tampouco. Sáenme as palabras amargas, preñes de ácido cianhídrico, así tóxicas, e non podo, sequer, chapar unha onza de chocolate que neutralice o envelenamento progresivo do discurso.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Piano

Fiquei de olhos fechados a ouvir...

Isto, que podia ser o início dum poema, não foi nada: adormeci.

O máis difícil foi encontrar título.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Involución

A ferida infecta no máis fondo
e o corpo larvado nun casulo
(en seda de silencios fiado)
de que non ha florecer avelaíña
mais o áptero cadáver dun soño.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Quinta de merda

—Chego a esquecer que tenho telemóvel —confessou-me ela— porque para mim ninguém liga.

Não demorei mais do que hora e meia a compreender porque não ligava ninguém para ela.

Chegara ao pavilhão com o saco dos patins às costas (quinta, até que enfim!  yepeehei!) e encontrei-a à porta (era eu quem levava a chave nesse dia).

—Já ia embora, pensei que não vinha ninguém —recebeu-me ela, tom de repreensão na voz.

E eu que não, que lá estava eu, chave e tudo, e viria, tinha de vir, alguém mais, com certeza.

Abri, entramos. Pousei o saco no chão e o corpo. Ela, a outra, nem foi buscar os patins. Ficou ao pé de mim, em pé, fala, fala, fala... Pus os patins, as caneleiras, as joelheiras, os protectores dos pulsos (um e dois, um e dois, um e dois, um e dois). Levantei-me, não caí, e ela, a outra, fala, fala, fala. E tentei entrar na pista, mas ela, fala, fala, fala. E meia hora depois ainda peguei no pau e na bola, para ver se assim, e nada. A cada movimento meu em direcção à pista, ela, a outra, puxava por mim com falas nada mansas (e eu com o pau na mão e más ideias na cabeça, mas rapariga educada que sou só pequei de pensamento e ainda ganhei lugar no purgatório), tenho para mim que o meu rosto era um poema, olhando para a porta (não vinha mais ninguém que me resgatasse?!), rodando as rodas no ar, batendo com o pau na bola não.

Até que disse eu, ó-caralho-vai-te-mas-é-foder, vou para a casa. E pousei o pau e o corpo no chão, e tirei patins, caneleiras, joelheiras, protectores de pulsos e arrumei tudo bem arrumadinho no saco. Levantei-me e disse, enfim, vou (vou embora, que já perdi tempo q.b.) e ela fala, fala, fala, ainda à porta (chovia, meudeus, chovia) e respirei fundo e desci um primeiro degrau e outro e todos, destemida. Ao carro, já! Quinta de merda hoje.

E ainda, quando eu já enfiava pernas, torso e cabeça, tudo enfim quanto é corpo, no carro, ouvi-a dizer, sarcástica:

—Olha que patinaste muito hoje...

E nem respondi, rapariga educada que sou, por não dizer pecados de alto, mas o meu rosto e os olhos nele eram um poema mesmo, todo inteiro. Não liga para ti ninguém, pois não?

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Vai à vida...

—Mas, olha, Maria, que se a gente não tratar logo disso, ela vai à vida...

Foi o que o Orlando, muito sério, me disse e eu fiquei (assim, tipo) aterrada, isto é: apavorada e em terra. Não demorei mais o remédio e já a mota descansa na oficina, cuidados intensivos para a bateria moribunda, ou quem sabe?, morta. (Além do mais: as diurnas lucubrações metalinguísticas do caso pintaram-me meio sorriso no canto dum olho.)

Depois lembrei-me deste País, que está indo à vida, também..

A falta de razões, embora composta, é simples:
1. Mergulhei na revisão da tradução dum calhamaço da Literatura Universal (i.e: ocidental) que me adormece durante o dia e me acorda durante a noite. É um trabalho tão fascinante quanto ruinoso, de aí a contínua congelação dos meus dedos.
2. Os serões divido-os entre a leitura de Coetzee (Slowman) e o romance que um amigo desconhecido me confiou antes da sua publicação. E digo-vos: tenho o coração partido entre Austrália e Trás-os-Montes.
3. E que não me apetece ponta de um corno escrever.

Pronto. Ponto.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013