sábado, 28 de julho de 2012

A descoberta

É sábado, mas não parece. Ou talvez parece até ao ponto de ser-se: aos sábados abandono o lugar cativo na minha esplanada às massas e refugio-me no bar dos bombeiros. Aquilo é paz em tamanho familiar e por ausência. Lá encontro o guarda do Convento mas os neurónios movem-se ao ralênti e só reconhecem quando ele já foi embora na carrinha... Desgraçada é que eu sou, e mais que irei ser: doravante é tudo sempre às arrecuas.

Do resto, é o menu do costume: descafeinado (triste) e água das Pedras, o único de borbulhante que na minha vida entra... ou não!?: tiro o celofane ao livro de contos em edição leve e cuidada duma chamada Companhia das Ilhas, e como é bom saber que ainda há ao meio do Atlântico quem sonhe para quem fica lastrado em terra firme:

"Curioso, soergueu o morto pelos colarinhos e deu-lhe duas galhetas só para lhe sentir os ossos. Este cabrão levou a vidinha a comer galinha, pensou. Virou-o de novo e perscrutou-lhe os bolsos de trás. Tinha o bilhete de identidade moçambicano. Leu: Zibelina Capristano Guente, casado. Quem se deitaria com tão fraco descaminho?"

António Cabrita. "A boa vizinhança". Ficas-me a dever uma noite de arromba
Companhia das Ilhas. Lajes do Pico. 2012

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Realidade





Ilha da Boega. Rio Minho
A sul dos meus olhos




Onde tudo se confunde

Inciso e directo

Andan a ser todos idénticos os amañeceres: neboeiro, pardais que chirlan, galos que cantan, asperxedores que se abren á hora programada no xardín do veciño, un can ou dous que ladran. E, pouco e pouco, o volume sobe. Algunha alma madrugadora que saíu a camiñar de mañá cedo. E eu, que a ver se me poño a traballar xa.

(Entre tanto, os que teñen oportunidades e pasta aínda estrágana en ir de vacacións á Madeira, cando existen os Azores. E logo quéixanse. Querían era un pau na cabeza. Ben dado.)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Verde que te quiero verde











Acorda-me o despertador e quase do único que tenho de vontade é de desliga-lo. Desligo. Uma hora mais tarde acordo. É dia. Está cinzento (os nevoeiros de agosto andam perdidos no calendário). Na rádio a música é a mesma de ontem: réquiem, um réquiem medonho e desafinado. Já na mesa, debruçada sobre a chávena, só tenho vontade de continuar a dormir, ali mesmo, o nariz enfiado nem que seja no arremedo de café que inventei para não me hipertensar (prometi ao meu médico não morrer antes de ele se reformar, haja paciência). Mas afinal, o verde do azeite sobre o pão, trazidos ambos da outra margem do rio conseguem que eu abra os olhos e diga: "Enfim...".

sábado, 7 de julho de 2012

A festa nacional

Está así un sábado de mañá coma tantos, poalla cincenta e boa temperatura, a paxarada como que este outono non é con eles e na radio un coro canta as glorias ao deus do santilorio ladrón de petos e pergameos.

Habemus codices, que é coma quen di materia para rexouba e sorna transformada nas terrazas a cuberto do orballo en leria e gargalladas, ofensas á presunción de inocencia, ao concepto da familia que reza unida ratea unida, ao misal, ao rosario (quen sabe, talvez, tamén produto de latrocinio?) e aos cartos baixo e no ladrillo. Repártense minutos de gloria ao torto e ao dereito: comisarios, deáns, alcaldes, presidentes e pobo: os tres estados medievais xuntos nun rectángulo de plasma ou led con subtítulos. Os pallasos esborranchan o sorriso plástico e a levita ante o espello do camerino, que o circo non morreu.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Em pôr-do-Sol

Continuo a ouvir o adágio
em andamento que me afasta
para mais longe ainda
dos clarins e os espaventos
e nem sequer estás tu já
para me desvendares os porquês
de tanto que não compreendo.

Simbiose

domingo, 1 de julho de 2012

Contra a melancolía




Hypericum perforatum
herba de san Xoán (gl.),
erva-de-são-joão (pt.), 
hierba de san Juan (cast.)

A (imposible) arte de pasmar

Penso que, se cadra, o máis estable dos meus desacougos devén de non fumar. Fumase eu, encontraba logo razón que nese instante ou en tantos outros abortados me sostivese o divagar dos ollos sobre o silencio en distraídisima reconcentración. Foi mesmo ese o sucedido incerto desta mañá, nas horas que anteceden o mediodía, sol limpo, airexa agarimando o corpo depilado ou cabeludo, a paxarada case nun calar de fondo a repousar das angueiras cotiás, insectos zunindo dereito, arañas tecendo a recú, veciños na misa (de comuñón e cadaquén a orar por si). Aquilo, se non era criar pasmo, parecía: nada urxente para facer, o tempo desentendido de min. Foi en tal cataléptico minuto, segundo arriba ou abaixo, cando dei en cavilar que me faltaba un cigarro nas mans ao que prender lume e letarxia. E aí tiven que sacudir a poeira das pálpebras para ver se enredaba aínda a conciencia nun desútil labor.

Completitude






Oenothera erythrosepala