quinta-feira, 31 de maio de 2012

Má vontade











Está calor. Está um calor... A esplanada parece mais um galinheiro. Eu, não parece, mas estou com vontade de matar alguém ou tudo. Tudo mesmo. Tudo em volta. Dissimulo o olhar assassino entre as letras do jornal. Apetece-me levantar-me e partir a loiça toda e com os nacos de loiça partida degolar pescoços, cortar línguas, ceifar cabeças. Ânsias insaciáveis de matar experimento. Todos mortos à minha volta menos o senhor Luís e a empregada, que sorri e pede licença. Todos mortos. E aquele silêncio divinal, ai, nunca mais vem.

Mas está calor. Está um calor que me mata. É só por isso que afinal não mato ninguém. E também porque este ano a cerejeira deu, até que enfim, cerejas (os melros que se cuidem do calor que está).

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Formigando

(E não é que tenho a caixa dos correios cheia de estrelinhas amarelas com encomendas?)

terça-feira, 22 de maio de 2012

Ao futuro das luces

Pedía para morrer unha fiestra con vistas,
talvez á memoria primeira,
talvez ao futuro das luces,
un fragor de mar encarneirado
ou o murmurio miúdo dun manancial bulindo,
fuxindo para onde o mundo fose inmenso
e dos ollos meus preso e libre,
que o camiñase sempre na presenza
leve do corpo que non doe.

Adormezo de fiestra aberta,
non me vaia apañar o día
nas tebras febrís da túa ausencia.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Uma ilha que não é







A Nova Marina a couso do Rei do Mar

Ao Luandino

—Isto aqui —disse Ele— é um sítio bom para morrer.

Tirara-me as palavras da ponta da alma e à nossa volta era só mar que havia, mar sossegado. Pensei que era, era mesmo, porque um sítio bom para morrer é sempre aquele em que é bom viver . Talvez era do cinzento-azul. Talvez do silêncio manso. Uma ilha que não é ilha porque tem uma ponte delicada que a une ao continente: porta a toda a hora aberta, passagem para caminhar sobre as ondas, deuses nós de cada dia.

Tentei imaginar como seria a ilha sob temporal. Gostei do que ouvi. Pensei que era um sítio bom para respirar e fechar os olhos à escuridão.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Escritas de mares ou mares de escritas



Galiza e Angola: 
O Anxo Angueira e o José Luandino Vieira
a arca do galeón Rei do Mar 
zarpando da Illa de Arousa








 

domingo, 13 de maio de 2012

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Almorzo

Están abertas todas as fiestras da casa. Aínda hai nada zoaba a xistra. Agora é preciso franquear o paso ao canto da poupa e as pitiños de pardello que reclaman, agoniosos, o almorzo. Está todo en calma. Non se move unha palleira. Dóeme todo aínda mais menos. Onte, no partido de hóquei, demostrouse que a dor é unha ilusión óptica. Quen sabe, de aquí a outros cincuenta anos, non estou (co pau xa dominado) de máxima goleadora en pista de xeo no inferno. Os vermes que me respecten. Vou alí botar unhas fragullas de pan à pardellada.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Paracetamol

Dóeme o corpo enteiro como nunca me doeu. Mentira. Doe como doe agora. Vou tomar un analxésico. E destruir cartas, conversas, pasados. Renego de min, do que fun. Tamén do que podía ser se. Viñeron cobrar o recibo mensual do seguro de morte. Non se debe deixar de pagar a non ser o día de autos. Pago, pois, relixiosamente. É agoirento sinal de descomposición futura (ou cinzas diluíndose pastosas na terra), antecipo do inferno.

P.S.: Conste que isto non ten nada que ver coa miña lección frustrada de voo.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Arroz de pombo

Pensei que devia escrever o que me apetecesse. Não é fácil. Podo-vos contar, porém, o que me aconteceu. Relato estrito. Despido. Aqui um silêncio ou pausa. Eu levantei-me. É o que a gente deve fazer em casos assim, se puder. Levantei-me porque podia. Levantei-me do chão. Não duma espreguiçadeira, dum banco, duma cadeira, duma poltrona, dum sofá, duma cama. Não-não-e-não. Do chão. Não decidira sentar no chão, não. Foi queda. Livre mas não voluntária. Acontece. Aconteceu-me. Flashback: que é como dizer: rebobina, recua, retrocede. Doíam-me muito os joelhos. Tanto, tanto. Era a dor toda ali concentrada. Com certeza, não dava alaridos (a dignidade não permite escândalos). O rosto contraído. As mãos, apalpavam à procura de peças musculo-esqueléticas quebradas. As luvas evitaram o esfolamento das mãos enquanto os braços aguentavam a força do impacto. Saí a voar por cima do guidão. À cadela teve um apertão de ventre dessincronizado com a suave descida. Amarrei a trela onde não devia. Pus o capacete (na cabeça) e as luvas (nas mãos). Após o almoço escovo os dentes, sempre, e pego nas chaves de casa, ás vezes.