sexta-feira, 29 de julho de 2011

Verborrea

Iníciase aquí un glosario de expresións idiomáticas de orixe alieníxena que irá baixo a etiqueta de "verborrea - verborreia".

ter acertos de cara á portería: meter goles, golear

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cuestión de tempo

É chistoso porque nin triste lle parece. Insiste o Acacio Xosé García de Freixas, a risco da rima fácil, que nin lle quece nin lle arrefece esa morte nin o súbito e conseguinte aumento de vendas. Que era cuestión de tempo, di o agoiro póstumo, hehehe. Como se non fose en última instancia e sempre cuestión de tempo, suspira. E olla para o reloxo, como a tentar calcular cal é o del, o tempo. (A morte non é cousa que lle interese a esas horas.) Continúa a encher de galletas maría a cunca do descafeinado con leite mentres dá grolos avaros ao zume de laranxa natural. Coa barriga da culler esmaga amodo as galletas ata que se forma una papa acastañada coma os ollos da veciña que nunca repararon nel, nin sequera cando fai por encontrarse con eles no cubículo do ascensor. Volve mirar para o reloxo. Aínda ten tempo, se o tempo quere. Mentres engole as papas todo ansioso e escorricha un fío de zume, pola radio toca outra vez falar de persoas que morren de fame e sede, pero lonxe. Cando termina, arromba a mesa e frega a louza.

Xa sorriu diante do espello á procura dunha faísca publicitaria nos dentes cepillados, pasou o peite mollado polo pelo, vestiu a chaqueta de espiga e saíu da casa. Chama polo ascensor e o ascensor acode coma un can obediente nun zunido de nave espacial. Ábrense as portas. Din! Dentro, a muller dos ollos cor de papa acastañada de galletas maría, descafeinado e leite responde aos bos días do Acacio Xosé e logo devolve a vista ao esmalte das uñas. El embarca nunha aventura que nunca vai ter lugar. Ela continúa a ollar o esmalte, perfecto, das uñas. Pola mañá sempre vai en xexún ao choio. Namentres, ao Acacio Xosé o queixo trémelle un algo. Será que intúe o final do traxecto? Sae a muller do ascensor e volve un segundo o rostro para contemplar as curvas que o vestido asenta no corpo do espello. O Acacio Xosé non volve o rostro, non mira para o espello, non ve o vestido. Malia o abaneo das ancas, ve apenas uns ollos cor de papa acastañada. (Segue sen preocuparlle a morte pero o queixo trémelle aínda.)

terça-feira, 26 de julho de 2011

A caminho do esquecimento

Já nem me lembrava que agora
quase já não me lembra nada,
apenas que a falta de memória
é o canibal iníquo do porvir ausente,
corda bamba em que o presente leve
ensaia os meus passos sobre o abismo.

Mapa físico







A Curota (A Pobra do Caramiñal)
519 m.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Cifra











De repente é uma pluma
na casa de banho,
voz de pardal a dizer
para eu escrever dele
as asas.

domingo, 24 de julho de 2011

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Que pouca ganiña teño...

Ai, como son, desde mañá cedo, esgotadoras as probas que nos inflixe a vida cotiá, decisións difíciles que cómpre tomar a cada momento e que nos modifican, arteiras elas, o curso da existencia, o rumbo do devir, o futuro tan maleable e desatinado. Soa o espertador e decido, cos ollos apegados de lagañas, se me ergo se non, se me deixo finar de desleixo, encamada, até a podredume apestar cadavérica un día as ventas dos bombeiros ou a nada, o ar. Erguinme, como se constata, e polo tanto, sobrevivo moi lentamente. Para non feder, entón, lavareime, digo. Para non recender, porei desodorante sen perfume.
―Café ou té? ―pregúntolle á conciencia, mentres estendo o mantel ondulándolle a caída sobre a mesa, nun preso revoar dócil de amorodos verdes sobre fondo branco.
―Ti mesma ―contéstame cunha displicencia que me quita do cacho.
Poño a cafeteira ao lume, só por xoscala, ben cargada. Sonche eu boa. A conciencia funga un sorriso medio sorneiro e sóbeme a hipertensión un tanto, que nin se nota, por algo é bicho ruín que roe pola calada, eu tan pancha e as veas dentro min inchadas.

(Teño para min que xa escribín sobre isto algures, mas podreceume a memoria polo camiño e o primeiro síntoma disto é unha zanfonada tediosa, petella, un eco que non agarda resposta.)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

E nada se passou

Atira-se do passeio à minha frente e saltita dum lado a outro, sem me ver, sem me ouvir, como pulga com comichão, a tentar atravessar o fio lento de carros que vem em sentido contrário, brando, insubmisso, com um destino marcado que nem o fastio do trânsito pesado altera. Saltita o gajo e eu levo décimas sem medida de segundo com a mão e o pé direitos a premer nos travões, a imaginar o filme não da vida inteira passada, mas da pouca que me sobra em futuro se, um, o gajo não me sai da frente dum raio duma vez, ou/e, dois, a mota não se detém antes do embate. As mãos, pequenas, minhas, aguentam o guidão —não se dando ao luxo de movimentar-se nem meio milímetro para premer no botão vermelho da buzina; as pernas, tensas, minhas, preparam-se para equilibrarem —inutilmente, receio—, na violência do impacto, o animal de plástico e ferros que se entregou ao cuidado delas. Nem um metro separa já os corpos humanos envolvidos. Grito. O gajo vira o rosto para mim. Ouviu-me, vê-me. Escancara olhos e boca alucinado. Encolhe-se. Cobre a cabeça com os braços como um boneco de porcelana e aguarda quieto o golpe. A mota, enfim, pára. Eu respiro, fundo fundo. A pulga, o boneco, o gajo desmancha o gesto. Pede desculpas e nego com a cabeça, não faz mal, não faz mal, digo para ele e os meus botões, e fico ali, parada, no meio da vida ainda, a olhar como enfim atravessa entre os carros o resto da rua, com uma vontade brutal e frustrada de abraçá-lo, de sorrir para ele... nada aconteceu que não mereça em casa muitas festas para os cães que já estarão com fome.

terça-feira, 19 de julho de 2011

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Aveirando...







Duas BMW e uma... mota








Escada ao céu, evidentemente (Uou!)






Como eu sou pequena!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Sopa

Tubarões vivos. Anunciam-se pelos alto-falantes. Tubarões vivos! E eu aqui no quintal tão desprotegida (alguma relva mais alta me defenderá?), tão fora de mim, imaginando-me, tão sem nenhumas águas por perto. Medito. Tch, tch, tch. Fossem ainda tubarões mortos, fazia-se uma sopa das barbatanas. A receita logo se arranjava na net. Para quantas doses dará uma barbatana de tubarão adulto? Quantos tubarões vivos é que eles trazem? Será boa a sopa de barbatana de tubarão? As perguntas estão mal feitas. Não se deve arrancar (cortar também não) as barbatanas a um tubarão vivo, que ele perde a condição por que deambula de aldeia em aldeia. Fosse ainda no mar... isso faz-se e vai o resto do bicho ao fundo, ninguém vê. Mas aqui a seco é que não. Quem limpava depois o sangue, que traz as moscas, na terra dos caminhos?

É o circo que dá nestes desvarios. Se precisarem duma mulher barbuda ainda vou com eles, com os tubarões digo, que têm um lindo sorriso, quando vivos.

Para o futuro

Teño encol do escritorio
un caderno negro sen estrear
e as palabras todas contidas
nas mans, coma á espera
dun silencio que lles abra liña,
dun acorde calado que as acompañe
nas tebras en que se perderon.
Teño encol do escritorio
un caderno negro en branco
co seu protector plástico aínda
e as ansias de gritar contidas
nas páxinas, coma a soñar
coas voces abafadas e as luces
dun arcoíris de lembranzas
para o futuro inexistente.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A outra voz (calada)

Que gañamos a guerra, gritan. En min estalan aínda tiros e badaladas a morto. Eles beben o sangue, mastigan a febra correúda dos ausentes. Festexamos o que?! A destrución do outro, o cheiro empachoso das vísceras podres que me impregnou ventas e soños para endexamais, os berros dos eivados na lama do terreiro. Necesito bailar, bailar, bailar para distraer a pel das farpas que a esfolan. Cala, apértame e vira, revira, fai da vertixe nosa espiral de esquecemento. Hoxe preciso afastar o horror nun recuncho da memoria de onde non máis saia. Baila, baila comigo. Báilame.

*[Cen palabras sobre o Sonigrama 6 do Diario Cultural da Radio Galega.]

terça-feira, 12 de julho de 2011

Graves riscos

toda palavra é uma semente: traz vida, energia, pode trazer inclusive uma carga explosiva no seu bojo: corremos graves riscos quando falamos.
Raduan Nassar. Lavoura Arcaica (1975). Relógio D'Agua Editores. 1999

Pois, toda, toda palavra é semente. Mas sabiam já os antigos que nem toda semente será vida. Semente pode-se perder, ao sol, alabarada numa tarde ruim de agosto; sob a unha dum cavalo distraído que a esmagou enquanto, arreganhando os beiços, escolhia as ervas que mais no pasto lhe apraziam; no incêndio (pavoroso, como se diz nas crónicas) que nada respeita; numa rajada de ventos súbita que a lance a um rio onde nem peixe a coma. Semente pode-se estragar de mil maneiras, nem todas más, se má fosse a vida que delas nascesse já não nascendo, a inçar culturas daninamente ou páginas sem proveito. Semente há que já seja, desde o início, gora, que é como dizer só envoltório nem de ar que se respire. Como palavras que nada dizem aos outros, nem a um entre milhões que as poupe ao esquecimento. E é por isso que as palavras, digo, as sementes, devem ser peneiradas na ternura ou no ódio, viscerais e despudoradas, com o embrião inteiro dentro, o seu peso este, a pulsar, a abrir(-se) caminho na casca, talvez a risco de acabar num precipício fatal... e mesmo assim gritando-se sentido em eco que se prolongue em árvore, em insecto, em pássaro ou folhas mortas.

Nada é nunca como era

Há notícias que chegam em forma de relatório
e nenhuma palavra que se mande
em forma de beijo ou de abraço
bastará para cobrir a distância aberta
pelo prognóstico ―asséptico― eloquente,
como se de repente os trilhos
se bifurcassem

e as mãos

fossem ficando sempre mais longe
umas das outras, a acompanharem os pés,

e as palavras

sempre mais surdas e sós,
encerradas dentro da boca.

Há notícias que chegam de manhã cedo
e já nada é nunca como era.
O céu, esse continua azul ou toldado,
a relva está na mesma, verde ou seca;
está igual o vento, calmo o inquieto,
e a terra gira enquanto a lua a espreita,
volta a volta.

Há notícias que secam os sonhos
como uma insolação o manancial do verbo.
Goián, 8 de junho de 2011

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Olhar inteligente

O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que, pela primeira vez, se lança um olhar inteligente sobre si mesmo [...].
José Saramago. Manual de Pintura e Caligrafia. Caminho. 1983

Boquiabri muda inteira, nem feita nada. Não podia dizer em que lugar nascera sem mentir, o que não era, no fundo, tão grave quanto o problema intrínseco de que o anteriormente afirmado era ilação, isto é, a bárbara consciência que me surgia de eu não ter nascido e talvez não vir a ter, na minha vida, possibilidades de alcançar o estatuto de nascida, furúnculo, sequer, a mais no mundo.

Importâncias

As dançarinas, esses seres de aparência dura e delicada, de estômago voraz como toda a gente, quando em massa, uivam que nem lobas em cio. Estes seus delírios sonoros, sem necessidade de amplificadoras potências, atravessam rios e ouvidos e aumentam o PIB duma vila, com o único intuito de abafarem qualquer ária que toque no rádio, por sublime que for.

domingo, 10 de julho de 2011

E depois...

Um ano inteiro.
Um abraço electrónico para te lembrar com os amigos.
Os beijos assim repartidos.
Um silêncio. O vazio.
Depois, ou talvez antes, ou ainda a toda a hora
as lágrimas do costume.
Um calendário novo
para uma tristeza antiga
e presente. Nada mudou hoje.
O dia é dia. A noite, sempre noite.
Goián, 22 de maio de 2011

sábado, 9 de julho de 2011

De somnio interrupto

Soñaba con el. Diría que el soñaba tamén comigo. Estabamos nunha praia ―que peregrino lugar para unha fantasía miña, nosa―, tanta area (e nela as cores multiplicadas, os gritos sen sentido, os odores, parasoles como bandeiras espichadas en territorio conquistado), tanto xentío, moito, tanto que nin os nomes dei aprehendido, todos amigos del, unha familia enorme cunha casa enorme alí ―mansión xenerosa, dígase, de actriz de cine de holibú― xusto a lamber nas dunas, herdade contraambiental de ricos mecenas que nos acolleran a mantido cunha neveira ateigada de leitón frío e fartura de tintos maduros con recendo alentexano na adega.

El abrazábame sempre, abrazábase a min, abrazabámonos. Non se pedía mais ao mundo: a sombra del a amparar o meu corpo da crueldade do sol e o sal.

Pasaban horas que eu non conseguía frear, aconteceu nin sei como, era natural, penso, fisio-lóxico con tanto rumor de augas ao fondo: nun momento dado tiven tanta gana de mexar, de ir até ao cuarto de baño limpo dos amigos (había os aseos públicos infames da praia, que tamén son un clásico no meu repertorio de soños, voume ter que ir mirar iso, creo que o herdei de miña nai e os paradores nacionais da infancia, só que isto é historia á parte de vivos e non vivos) pero resistíame a me ceibar da súa aperta e aguantaba, aguantaba...

(Cumpría escoller unha fin para o soño. Calquera delas era inelutablemente triste.)

Soou o espertador. Cando abrín os ollos, restaba apenas no dormitorio un vento frío e a gana de mexar.

Puido ser peor.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

E amanhã mais do mesmo...

Com licença. Vou à prosa da vida, traduzir viquingos de coração mole e cerveja quente, construir rípios de alto nível ao compasso da lira. Os grilhões prendem-me hoje a desventuras em castelos sem fantasmas, fantasmas sem transparências, a monotonia nos dedos, vozes estúpidas e estridentes. Coitada infância. (Atirem já os televisores nos contentores de resíduos biológicos letais!)

Fora chove, mas cá dentro há tempo que a humidade estraga as paredes doridas do mediastino e não só.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Negócio ruinoso

Que esta semana estou com muito trabalho e volto às onze horas diárias debruçada sobre a secretária, digo-lhe, para adiar a resposta inteligente (nem que seja inventada, que os neurónios estão pela hora da morte) a um enigma. E ela, ha, que bom então, assim não vais ter problemas de massa! Pois sim, pois é, respondo e tiro de calculadora: revisão de textos e introdução de emendas no livro de homenagem a um amigo, grátis total e a muita honra; revisão das provas do romance que traduzi (quase 600 páginas de letra tamanho cláusulas contratuais), népias à mistura com zelo profissional doentio; tradução de textos de homenagem a um ilustre escultor vizinho, agradecimentos vários em forma de sorriso que não há dinheiro que pague... Total: Hein?

Pois sim, pois é. Não há crise.
(Uma mina é que é, como dizem nesta terra, de caroços.)

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Cheiro e memoria

Atravesóuseme unha pedriña no camiño mentres patinaba (e contrariando o que di o clásico, parei de rodar, iso si, sigo sendo a raíña do espatife). Minúscula. Nin se vía desde metro e medio de altura. E alá vou eu, cunha elegancia incomparable, de pernas para o ar e cu para o chan. O impacto foi de tal violencia que destas horas debe de andar a GNR á miña procura para me pasar a factura dos danos provocados ao bater eu co matapiollos da man esquerda no pavimento...

Non foi iso o peor, con todo. Para eludir as pescudas policiais, nada máis chegar á casa fun ao conxelador, á procura dunhas pedras de xeo que disimulasen a inchazón do matapiollos (o cu... nin con esas me incha). Que inxenua! Desde cando hai xeo nunha casa en que o malta se engole a seco, coma as mágoas? Había, porén, nun dos moldes, un líquido en estado sólido de aspecto noxento. En fin, dixen, contrariando o refrán "menos dá unha pedra", pois neste caso, unha pedra (de xeo) había dar máis. Envolvín aquilo nun pano e apliqueino no dedo até que me arrefeceu tanto que máis me doía do frío ca do golpe que con saña propinara ao duro chan que arremeteu contra o meu corpo fráxil.

Aos dous segundos, xa estaba eu no teclado, cando un fedor ao peixe —que non me dá saído do nariz, dez horas despois— comezou a invadir o ambiente. E eu dálle que dálle a torcer o fociño até que caín da burra... e lembrei que nun pasado remoto conxelara caldo de peixe nos moldes do xeo. Proba de que non hai como os cheiros para espertar a memoria.

P.S.: Ninguén veu ultimamente tempo tomar un whisky con xeo por aquí, ou? Aínda ben.